quinta-feira, 30 de maio de 2013

As pontuações de nossa vida

O ser humano é muito mais pontos de exclamação e interrogação que ponto final.
Isto é, somos, na gramática de nosso comportamento, muito mais ligados a emoções e questionamentos que a términos.
Não sabemos lidar com o fim. Não somos bons em romper, em terminar algo, em encarar a morte. Não aceitamos o ponto final da vida.
Somos reis em acreditar na vírgula – acreditamos que a procrastinação é a solução, que “dar um tempo” é aceitável e em vida após a morte.  Não existe morte, e sim uma grande vírgula, que separa as sentenças de Céu e Terra.

Desejamos que a Medicina jogue nosso ponto final lá para um futuro distante, e nos irritamos quando ela “falha”. Não se pode mais morrer.  Se morreu, foi culpa do médico. (WTF?)
Eu compreendo esse pavor a pontos finais.  Tem tantos pontos de exclamações dentro de mim que ainda precisam ser vividos, tantas interrogações aguardando por respostas, que o ponto final parece cruel.  Mas é esse ponto final que nos dá a clareza do que é a vida.
A certeza do ponto final nos mostra o valor de cada dia. Sem o ponto final, talvez não vivêssemos tantos pontos de exclamação!
“Se queres poder suportar a vida, estás disposto a aceitar a morte”, disse Freud.

A finitude é a antítese de nosso narcisismo.
Aceite que tudo é finito. Em tudo terá um ponto final. Mas não se deixe dominar por ele.
E, durante a vida, os pontos finais são possibilidades de recomeço. Trabalho, namoros, férias e tratamentos dentários: tudo acaba, sendo bom ou ruim.

Quando verdadeiramente aceitamos as pontuações inevitáveis de nossa louca gramática vital, iremos escrever o mais belo texto: nossa vida!